sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A velha e boa cidade de Goiás


A cidade Goiás é conhecida também Goiás Velho, ou pelo nome mais antigo, Vila Boa de Goiás. Para não confundir com a nova capital deste estado, grande e moderna cidade Goiânia. É justo, já que por muito tempo esta antiga cidade, pelos padrões da história do Brasil é claro, era capital do estado com mesmo nome.

As funções de capital foram transferidas nos anos 1930-1940 para um novo centro, estrategicamente construído na região mais plana, foi uma época de rápidas mudanças sócio-econômicas. E a cidade Goiás um tanto parou no tempo, aos poucos se tornando um modesto centro regional, que claramente demonstra as tradições do estado de Goiás. Seu centro ficou grande demais para nova função, portanto não sofreu nenhuma reforma, apenas se adaptava aos poucos às novas realidades. Com passar dos anos isto resultou em um patrimônio inestimável, a cidade foi reconhecida como monumento histórico de importância nacional e mundial. Começou a restauração cuidados dos seus conjuntos arquitetônicos, mas a sua popularidade como destino de turismo cultural ainda está muito abaixo da merecida.

Um dia dedicado à visita a velha capital de Goiás deixou impressões muito ricas e profundas. Admiramos a naturalidade de coexistência das várias camadas da história, nem tanto na forma dos museus, quanto no dia-a-dia do atual século 21.

Então, como as cidades se tornam "cidades históricas"? É claro que a idade é uma das condições necessárias, mas não é suficiente. Senão, a lista das cidades históricas seria quase infinita, mas de fato ela é bem limitada, a ponto que precisamos viajar muito para conhecê-las. Acho que a biorgrafia da cidade Goiás é bastante típica para tal categoria, e não só no Brasil.

Um aspecto brasileiro mais específico é a idade absoluta menos impressionante, nem chega a três séculos. Com apenas cinco séculos de descobrimento pelos portugueses, as cidades mais antigas da Costa Atlântica já têm quase tudo isso, pelo menos quatro. Mas a penetração aos fundos do continente demorou bem mais. A Vila Boa de Goiás foi fundada em 1727 (oficialmente em 1732) pelos Bandeirantes de São Paulo, como uma base de mineração na região aurífera recém descoberta. Logo recebeu de São Paulo as funções administrativas e se tornou centro de um grande território com população muito rarefeita. Basta dizer que depois esta territória passou a ser chamada Estado de Goiás, e atualmente este estado tem área equivalente à da Alemanha, mas com população 12-15 vezes menor. E isto depois da reforma do século 20 que resultou na separação em dois estados, o atual Tocantins era parte norte do Goiás dos velhos tempos. Portanto, a cidadezinha comandava área de duas Alemanhas por um bom tempo.

O ouro, extraído nas montanhas ao lado, foi fundido na cidade e começava o seu caminho para o Velho Continente. Alguma parte das riquezas serviu para melhorias da infraestrutura local, portanto já no final do século 18 foram construídos os prédios mais importantes e consolidou-se a atual aparência das quadras centrais. Entretanto, o ciclo de ouro não foi muito longo, a produção caiu, mas a importância da cidade como centro administrativo, e até um ar de capital, permaneceram. A vida cultural da Goiás seguiu as padrões de Rio de Janeiro, na época capital da colônia e depois do Império independente.

Passaram mais algumas décadas. No século 20 o vetor de desenvolvimento econômico do Planalto Central mudou completamente, a pecuária e o processamento dos seus produtos se tornaram dominantes. E este negócio cresceu mais na região mais plana, onde logo ocorreu aumento populacional e surgiram novas cidades. A assunto de transferência da capital estadual entrou na pauta e a cidade Goiás passou a ser capital em exercício temporário. Não houve mais recursos para seu desenvolvimento, tudo foi poupado para financiar o projeto de transferência. Nos anos 1930 começou a construção da Goiânia, que aos poucos assumiu todas as funções administrativas, e em 1942 se tornou capital única do Estado de Goiás.

Resumindo, a cidade Goiás experimentou as fases de desenvolvimento acelerado no século 18, inercial no século 19 e quase nenhum no século 20. Não houve degradação considerável, apenas ocorreu que, para nova função de centro local, a estrutura urbana era suficiente por muito tempo. Bastava mantê-la em condições razoáveis, o que aconteceu naturalmente.

No mesmo período, o desenvolvimento da nossa civilização se tornou exponencial. Os atributos do século 18 continuaram valendo no século 19 também. Já no 20 as mudanças andaram mais rápido, e na sua segunda metade mais rápido ainda. Um tanto de lado de tudo isso, a Goiás conservou para nós as sensações da época não muito distante, quando comparada com a sua própria duração. A alguns traços seus agora se tornam atraentes de novo, na nova rodada de redescoberta dos "valores eternos".

É melhor ilustrar estas observações com imagens da própria cidade, pequena e encravada na Serra Dourada, que, por sinal, é muito verde no verão. Hoje em dia muitos gostariam de fugir das metrópoles para lugares como este, caso fosse possível levar junto o nível salarial e mais algumas coisas.



A vista da cidade e da serra, que abre do Morro de Santa Bárbara.




A igreja de Santa Bárbara, construída neste morro em 1775-1780. Fica na parte alta, a direita do Rio Vermelho, um pouco distante do Centro histórico, que ocupa a margem esquerda.


O rio desce rápido das montanhas e começa frear na planície da cidade. Com grandes oscilações de seu nível, isto periodicamente leva às inundações das ruas próximas. As verdadeiras enchentes, com danos às construções, ocorreram duas vezes nos últimos 100 anos, em 1918 e em 2001.


A última levou também todas as pontes. Uma parte foi reconstruída depois conforme os modelos antigos, outras sofreram mudanças importantes, ficaram mais altas e mais largas. Mas os vestígios de desastre ainda são visíveis.


A igreja de São Francisco de Paula (1761) é a mais antiga entre as que sobreviveram até hoje. Os afrescos no interior, que contam as histórias do São Francisco, foram feitos em 1869.


Esta igrejinha não tem torres, e o seu sino fica na construção independente, feita de madeira.

Na outra igreja de mesmo tamanho, N.S. do Carmo (1786), foi aplicada outra solução, o sino ficou na janela.


A Igreja Matriz de Santana é de porte muito maior, o que rsultou em prazos de construção incomparavelmente maiores. Formalmente, começou em 1743-м. Mas em 1759 o teto desabou e começou uma série de reconstruções. A configuração atual surgiu já em 1998, e o acabamento ainda não foi concluído.


Portanto, o Palácio de Conde dos Arcos (1755) deve ser considerado como prédio mais antigo da cidade. Já abrigava o Governo do Estado, atualmente funciona como Museu Histórico.


A sua vizinhança, Igreja e Museu de Arte Sacra da Boa Morte (1779, museu desde 1969). O único prédio da Goiás com elementos barroco.

Há também o Museu das Bandeiras, o mais famoso dos museus locais. Este prédio de 1766 pertencia ao poder legislativo. Conforme às tradições coloniais, no porão houve prisão temporária, onde suspeitos passaram período de investigação e julgamento.


E tudo isso é misturado com o atual cento financeiro e comercial da cidade. As agências bancárias por aqui são bastante discretas.


A velha cidade vive sua vida, renovada em alguns aspectos, mas bastante tradicional.







Os anúncios de moto-táxi abaixo de telefone público, um traço de modernidade.



A famosa Cruz de Anhanguera, um dos lugares lendários da época de primeiras Bandeiras. Fica na margem do Rio Vermelho, e no outro lado do rio começa um novo capítulo da história goiana. A casa no outro lado da ponte é da não menos conhecida Cora Coralina, portanto, teremos mais um relato especial.

Fotos do autor
Atualizado 14.12.2018


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